O FC Porto, através do seu departamento jurídico, exige ser ressarcido. E exige muito bem porque, na verdade, o que se está a passar no futebol português é uma grande vergonha.
Imagine-se só que por causa de uma lei proposta pelo FC Porto e aprovada com o voto do FC Porto, em reunião magna da Liga de clubes, o mesmo FC Porto viu-se privado do concurso de Lionel Messi, perdão, do concurso de Givanildo Hulk, no espaço compreendido entre as datas de 20 de Dezembro de 2009 e 19 de Fevereiro de 2010!
No presente momento, ocorrem os preparativos para uma guerra sem precedentes no quartel do departamento jurídico do FC Porto. Lutarão uns contra os outros, fraternalmente, como nunca mais se tinha visto naquela casa desde o tempo, tão longínquo, do histórico Verão quente de 1980, quando metade da equipa de futebol, numa expressão de rebeldia contra o presidente eleito do clube, o dr. Américo de Sá, fugiu ao trabalho no Estádio das Antas para se juntar à facção de Pinto da Costa, dispensada pelo mesmo dr. Américo de Sá, vá lá saber-se porquê...
Lembrar-se-ão, certamente, os mais velhos desses tempos heróicos, dos alinhados, que treinavam nas Antas sob as ordens do austríaco Stessl, contratado pela Direcção eleita, e dos desalinhados que treinavam no Pinhal de Santa Cruz do Bispo, sob as ordens do adjunto de José Maria Pedroto, co-líder dos revoltosos. Enfim, foi um período recheado de legalidades e que culminou na inevitável queda de Américo de Sá que não era pessoa destes futebóis.
Pois, tantos anos passados, estamos praticamente na mesma, o que não deixa de ser curioso. Estamos, hoje, perante mais uma guerra fratricida no FC Porto, só que, desta feita, tudo se passa no impoluto domínio da Lei e da Ordem, o que também não deixa de ser curioso.
Não pensem, os incautos, aquilo que eles querem pôr-vos a pensar. Não, nada disso, sosseguem! Não foi o dr. Ricardo Costa, presidente daquela coisa disciplinar lá da Liga apanhado em escutas telefónicas a obedecer, atento e diligentemente, às instruções do GPS presidencial benfiquista até ao seu domicílio fiscal para receber conselhos matrimoniais benfiquistas em benefício de familiares seus, nas vésperas de qualquer decisão importante no campo desportivo.
Trata-se de assunto diferente.
Trata-se da Lei.
Os juristas do FC Porto levaram à aprovação da Liga de clubes uma Lei que visava suspender preventivamente e até à decisão do órgão competente qualquer atleta que pisasse as marcas. Que pisasse, que pontapeasse ou que esmurrasse as marcas. Ora foi precisamente o que aconteceu com Givanildo Hulk que, insatisfeito com o resultado do Benfica-FC Porto, de 20 de Dezembro, agrediu um funcionário da segurança, no túnel.
Lamentavelmente para o agressor, o seu gesto foi observado e registado pelo árbitro, pelo árbitro assistente e pela polícia, que é uma instituição muito mal vista em Portugal. Os respectivos relatórios das respectivas entidades chegaram à Comissão de Disciplina da Liga e, diligentemente, foram analisados à luz da legislação desportiva gerada e aprovada pelo grande Dragão. No fundo, é muito simples: qualquer infractor das regras mínimas da civilização fica automaticamente suspenso até à deliberação final do órgão disciplinar competente.
Clubismo à parte, parece uma justa deliberação. E há que dar os parabéns aos juristas do FC Porto por tal capacidade de previsão e punição de desacatos. Não custa nada dar mérito a quem o tem. E quando redunda numa proeza, então, nem se discute…
A proeza de manter Hulk suspenso entre 20 de Dezembro e 19 de Fevereiro, à face da Lei, cabe inteirinha ao departamento jurídico do FC Porto. Quando, finalmente, a 19 de Fevereiro, o pessoal do dr. Ricardo Costa, que são os tipos lá daquela coisa disciplinar da Liga de clubes, essa instituição infestada de benfiquistas, decidiu publicitar o castigo ao agressor já estava o caldo entornado e anarquia instalada no País.
É que nos últimos quatro anos foi um sossego e peras. O FC Porto campeão e o Sporting diligentemente, no segundo lugar, consequentemente apurado para a Liga dos Campeões. Este ano, a coisa fia mais fino… A seis jornadas do fim, segue o Benfica em primeiro lugar e o Sporting de Braga em segundo e tudo por causa do departamento jurídico do FC Porto que, graças à sua própria lei, impediu o Hulk de jogar durante dois meses.
E é por esta razão, e com toda a razão, que o FC Porto vai exigir ao FC Porto uma indemnização que o ressarça dos danos sofridos. Vamos ter um escritório de advogados com sede no Dragão a esgrimir argumentos contra um escritórios de advogados clandestinamente sediado no Pinhal de Santa Cruz do Bispo. E pode-se facilmente antecipar os presumíveis diálogos dos litigantes em casa própria:
— Mas quem é que teve a ideia desta lei da suspensão preventiva?
— Foste tu.
— Não fui nada eu. Foste tu!
— Não fui. Foi o professor Jesualdo Ferreira!
— Rua! Rua! Rua!
— Depois da porcaria de lei que inventaste quantos jogos esteve o Hulk suspenso?
— Para a Liga dos Campeões não esteve nenhum, até jogou em Londres contra o Arsenal.
— Ora bem, isso foi um jogo que não interessa nada para as nossas contas!
— Desde 19 de Fevereiro, para o campeonato esteve quatro jogos de fora, sua grande besta!
— Besta és tu! E quais foram os resultados?
— Ganhámos dois jogos, empatámos um e perdemos outro!
— Temos de ser ressarcidos! Estúpido!
— Olha, morcão, ressarce-te tu que és o culpado desta coisa toda.
— Eu? Eu não bati em ninguém!
— Mas inventaste a Lei da Suspensão Preventiva, meu grande azeiteiro!
— Mas juro-te que estava a pensar no Argel!!!
— Enxerga-te! Vou-te exigir uma indemnização, no mínimo, de 7 milhões de euros, que é o mínimo pela entrada na Champions!
— Tem mas é juízo! Em seis jornadas e a 5 pontos, nós ainda vamos apanhar o Braga e vamos à Champions!
— Isso é que era o ideal! Pagas-me a indemnização e ainda ganhamos o prémio da Champions!
— Feliz Natal!
— Feliz Natal, morcão!
— Feliz Natal, azeiteiro!
— Encontramo-nos em tribunal!
— Isso é canja!
E, olhem, ficaram logo amicíssimos. É a porcaria do capital.
PS — Um feliz Dia das Mentiras para todos!
No presente momento, ocorrem os preparativos para uma guerra sem precedentes no quartel do departamento jurídico do FC Porto. Lutarão uns contra os outros, fraternalmente, como nunca mais se tinha visto naquela casa desde o tempo, tão longínquo, do histórico Verão quente de 1980, quando metade da equipa de futebol, numa expressão de rebeldia contra o presidente eleito do clube, o dr. Américo de Sá, fugiu ao trabalho no Estádio das Antas para se juntar à facção de Pinto da Costa, dispensada pelo mesmo dr. Américo de Sá, vá lá saber-se porquê...
Lembrar-se-ão, certamente, os mais velhos desses tempos heróicos, dos alinhados, que treinavam nas Antas sob as ordens do austríaco Stessl, contratado pela Direcção eleita, e dos desalinhados que treinavam no Pinhal de Santa Cruz do Bispo, sob as ordens do adjunto de José Maria Pedroto, co-líder dos revoltosos. Enfim, foi um período recheado de legalidades e que culminou na inevitável queda de Américo de Sá que não era pessoa destes futebóis.
Pois, tantos anos passados, estamos praticamente na mesma, o que não deixa de ser curioso. Estamos, hoje, perante mais uma guerra fratricida no FC Porto, só que, desta feita, tudo se passa no impoluto domínio da Lei e da Ordem, o que também não deixa de ser curioso.
Não pensem, os incautos, aquilo que eles querem pôr-vos a pensar. Não, nada disso, sosseguem! Não foi o dr. Ricardo Costa, presidente daquela coisa disciplinar lá da Liga apanhado em escutas telefónicas a obedecer, atento e diligentemente, às instruções do GPS presidencial benfiquista até ao seu domicílio fiscal para receber conselhos matrimoniais benfiquistas em benefício de familiares seus, nas vésperas de qualquer decisão importante no campo desportivo.
Trata-se de assunto diferente.
Trata-se da Lei.
Os juristas do FC Porto levaram à aprovação da Liga de clubes uma Lei que visava suspender preventivamente e até à decisão do órgão competente qualquer atleta que pisasse as marcas. Que pisasse, que pontapeasse ou que esmurrasse as marcas. Ora foi precisamente o que aconteceu com Givanildo Hulk que, insatisfeito com o resultado do Benfica-FC Porto, de 20 de Dezembro, agrediu um funcionário da segurança, no túnel.
Lamentavelmente para o agressor, o seu gesto foi observado e registado pelo árbitro, pelo árbitro assistente e pela polícia, que é uma instituição muito mal vista em Portugal. Os respectivos relatórios das respectivas entidades chegaram à Comissão de Disciplina da Liga e, diligentemente, foram analisados à luz da legislação desportiva gerada e aprovada pelo grande Dragão. No fundo, é muito simples: qualquer infractor das regras mínimas da civilização fica automaticamente suspenso até à deliberação final do órgão disciplinar competente.
Clubismo à parte, parece uma justa deliberação. E há que dar os parabéns aos juristas do FC Porto por tal capacidade de previsão e punição de desacatos. Não custa nada dar mérito a quem o tem. E quando redunda numa proeza, então, nem se discute…
A proeza de manter Hulk suspenso entre 20 de Dezembro e 19 de Fevereiro, à face da Lei, cabe inteirinha ao departamento jurídico do FC Porto. Quando, finalmente, a 19 de Fevereiro, o pessoal do dr. Ricardo Costa, que são os tipos lá daquela coisa disciplinar da Liga de clubes, essa instituição infestada de benfiquistas, decidiu publicitar o castigo ao agressor já estava o caldo entornado e anarquia instalada no País.
É que nos últimos quatro anos foi um sossego e peras. O FC Porto campeão e o Sporting diligentemente, no segundo lugar, consequentemente apurado para a Liga dos Campeões. Este ano, a coisa fia mais fino… A seis jornadas do fim, segue o Benfica em primeiro lugar e o Sporting de Braga em segundo e tudo por causa do departamento jurídico do FC Porto que, graças à sua própria lei, impediu o Hulk de jogar durante dois meses.
E é por esta razão, e com toda a razão, que o FC Porto vai exigir ao FC Porto uma indemnização que o ressarça dos danos sofridos. Vamos ter um escritório de advogados com sede no Dragão a esgrimir argumentos contra um escritórios de advogados clandestinamente sediado no Pinhal de Santa Cruz do Bispo. E pode-se facilmente antecipar os presumíveis diálogos dos litigantes em casa própria:
— Mas quem é que teve a ideia desta lei da suspensão preventiva?
— Foste tu.
— Não fui nada eu. Foste tu!
— Não fui. Foi o professor Jesualdo Ferreira!
— Rua! Rua! Rua!
— Depois da porcaria de lei que inventaste quantos jogos esteve o Hulk suspenso?
— Para a Liga dos Campeões não esteve nenhum, até jogou em Londres contra o Arsenal.
— Ora bem, isso foi um jogo que não interessa nada para as nossas contas!
— Desde 19 de Fevereiro, para o campeonato esteve quatro jogos de fora, sua grande besta!
— Besta és tu! E quais foram os resultados?
— Ganhámos dois jogos, empatámos um e perdemos outro!
— Temos de ser ressarcidos! Estúpido!
— Olha, morcão, ressarce-te tu que és o culpado desta coisa toda.
— Eu? Eu não bati em ninguém!
— Mas inventaste a Lei da Suspensão Preventiva, meu grande azeiteiro!
— Mas juro-te que estava a pensar no Argel!!!
— Enxerga-te! Vou-te exigir uma indemnização, no mínimo, de 7 milhões de euros, que é o mínimo pela entrada na Champions!
— Tem mas é juízo! Em seis jornadas e a 5 pontos, nós ainda vamos apanhar o Braga e vamos à Champions!
— Isso é que era o ideal! Pagas-me a indemnização e ainda ganhamos o prémio da Champions!
— Feliz Natal!
— Feliz Natal, morcão!
— Feliz Natal, azeiteiro!
— Encontramo-nos em tribunal!
— Isso é canja!
E, olhem, ficaram logo amicíssimos. É a porcaria do capital.
PS — Um feliz Dia das Mentiras para todos!
Por Leonor Pinhão in A Bola
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