Por ser uma atividade pública, que mexe com muitos interesses e muitas paixões, o futebol não pode dispensar certos requisitos aos seus agentes. Exige-se, por exemplo, que meçam as palavras que escolhem e que calculem as respetivas consequências. Requer-se bom senso, mesmo pela omissão e/ou pelo silêncio.
E pede-se que não seja precisamente quem detém responsabilidades que acabe a assumir, de forma leviana, o papel de incendiário junto desse eterno combustível que são as claques e os adeptos. Pelo contrário: há momentos em que o apelo à serenidade é um serviço prestado ao desporto e à comunidade.
Por tudo isto, Salema Garção, dirigente do Sporting, já ganhou o direito a uma página negra da história do futebol nacional, ao sugerir a criação de um "ambiente extremamente difícil" para um jogador (Simão Sabrosa) e, de caminho, para o clube que atualmente representa (Atlético Madrid). É o absurdo total: depois de regressar a Portugal, vindo do Barcelona e para o Benfica, Simão jogou várias vezes em Alvalade sem direito a hostilidade especial, embora não escapasse aos apupos da ordem. Mais: as relações entre os leões e o clube espanhol não seriam más até à data, se nos lembrarmos da recente transferência de Pongolle, de Madrid para Lisboa. Agora, com o caldo entornado, bem pode Salema Garção reclamar que aquilo que disse não pretendia sugerir o ambiente de guerrilha e intifada que se viveu nas cercanias do Estádio de Alvalade. Vale pouco e não tem efeito retroativo, a justificação: é antes dos incidentes que é preciso prevê-los e evitá-los. Caso contrário, é tão válida e útil como os prognósticos no fim do jogo.
Dentro de campo, outra vergonha: a conduta quase tresloucada de Bruno Alves, um homem que ainda há oito dias fiz questão de defender nesta coluna. Em má hora: em muitos anos de futebol, raras vezes vi um jogador - e capitão de equipa - afastar-se tanto do conceito de fair play que deve imperar entre adversários. Começou pelo insulto verbal - bem visível nas imagens da TV - e depois usou todas as suas armas: as mãos, os cotovelos, os joelhos, os pitons. Ao intervalo, para evitar males maiores, impunha-se a sua substituição. Acabou impune, apesar do que fez com Kardec (a principal vítima), com Aimar (a mais evidente), com Cardozo. A partir de determinado momento, só havia duas dúvidas: por quantos ganharia o Benfica e quantas vezes Alves "pediria" a expulsão... sem a obter. No fim, Jesualdo Ferreira - que conseguiu ver "um jogo equilibrado" - descobriu uma arbitragem "sensata". Por mim, só vi uma arbitragem disciplinarmente cobarde. E assisti ao silêncio cúmplice de quem manda no FC Porto, a sancionar o golpe baixo, a violência e o destempero.
João Gobern in Record
2 comentários:
Kláp Kláp Kláp ....
um forte curto e grsso de um jornalista de espinha direita !
É verdade, sim senhor, e só foi pena há bocado, já depois do Braga, não ter dito com todas as letras que o Porto com Hulk é o mesmo que jogar com 10. Esteve quase, mas não disse tanto, e deveria, pois foi precisamente perguntado por isso, não com essas palavras, mas quase.
Perdeu uma boa oportunidade, depois de mostrar os números que dizem que o Porto com Hulk é pior do que sem.
Abraço
Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera
http://Bimbosfera.blogspot.com
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