Quim é um daqueles jogadores de futebol a quem a sorte, de quando em vez, parece virar as costas. Mal amado por parte dos adeptos benfiquistas, foi vítima de experiências (todas de resultados desvantajosos para o clube) por alguns técnicos que passaram pela Luz - de Moretto a Butt, foi batendo um a um. Com Jorge Jesus, que provou não brincar em serviço e não olhar a nomes nem a "vacas sagradas", foi totalista na Liga e o guarda-redes menos batido. Não conheço melhor em Portugal, tal como não me recordo, em 2004, de haver quem igualasse Vítor Baía. Deve ser sina - Quim fica de fora da convocatória de Carlos Queiroz, como Baía foi afastado por Scolari. Depois das experiências com Rui Patrício e Hilário, o selecionador optou por eleger Beto (um suplente pouco utilizado) e Daniel Fernandes (quem?). Quim não merecia a desfeita.
De resto, a convocatória de Queiroz contradiz o princípio do mérito que anunciou à chegada - Queiroz escolheu, em múltiplos casos, por hábito ou pelo recurso ao choque, desvalorizando o momento de forma dos atletas e, vamos lá, a devida recompensa depois de uma época em pleno. Exemplos? Ruben Amorim, João Moutinho, Carlos Martins, Daniel Carriço, Nuno Assis, até o experiente Nuno Gomes. Em nome de quê, ou de quem? De Ricardo Costa, pouco utilizado no Lille, de José Castro, de uma obsessão chamada Duda. Resultado: se Deco não recuperar de uma época medíocre e apoquentada no Chelsea, a Seleção prescinde de um centro-campista criativo e dinamizador porque Moutinho, Martins e Assis já estão de férias... Com Raul Meireles longe dos melhores dias, com Miguel periclitante, com uma incógnita chamada Pepe (embora seja louvável a sua manutenção no grupo), poderá defender-se sem demagogias que Amorim não tinha lugar?
No conjunto, Queiroz desdenha de um fator que chega a ser decisivo, o da motivação - depois de uma época categórica do Benfica, consegue a proeza de só incluir um jogador dos campeões nacionais. Sinceramente, desejo que a vida lhe corra bem e que a Seleção possa confirmar a belíssima imagem deixada nos últimos três grandes torneios internacionais, embora o "casting" pareça defensivo e errante. Caso o Mundial não corra de feição, não haverá "plano quinquenal" que lhe valha, nem estabilidade que lhe evite outra saída pela porta dos fundos.
Dito isto, a partir daqui e até ao regresso da expedição africana, a Seleção de Queiroz passa a ser a minha Seleção. Incondicionalmente. As contas fazem-se no fim.
P.S. - Por falar em contas, confesso que tive pena de ver alguns regressar às "vitórias morais". Como a de Falcão - belíssimo jogador descoberto pelos olheiros do Benfica - contra Cardozo, campeão dos marcadores. Muito pode a impotência.
Por João Gobern in Record
1 comentário:
Belissima crónica, concordo inteiramente com o João Gobern!
Força Selecção e Força Coentrão
Enviar um comentário